O médico legista Marcelo Giacomini saiu de casa, em Muritiba, no Reconcâvo baiano, por volta das 3h para ir até Salvador, onde trabalha. Numa rua da cidade, no entanto, deu de cara com um veículo em chamas bloqueando a via. Na outra que tentou acessar, percebeu o chão forrado por ‘miguelitos’ – objetos perfurantes capazes de furar pneus – impedindo a passagem.
Enquanto dirigia, ele até tinha ouvido barulhos fortes similares a rojões e rajadas que não sabia explicar. Ao não conseguir sair, percebeu que o que ouvia à distância eram, na verdade, explosões e tiros deflagrados por bandidos que destruíram três agências bancárias do município, na madrugada de segunda-feira (7).
“Quando eu vi o carro atravessado na pista, achei que fosse assalto. Voltei de ré rápido e preocupado. Depois, percebi o que estava acontecendo. […] Entrei em uma rua pouco movimentada, apaguei o farol e fiquei esperando para não me encontrar com eles passando e ter problema”, conta Murilo.
Ele só conseguiu sair da cidade por volta das 5h. A ação dos bandidos, segundo moradores, durou cerca de 40 minutos. Durante esse tempo, não houve espaço para respiro na cidade. Quem estava fora ou dentro de casa viveu momentos de terror. Quatro pessoas que estavam na frente da prefeitura foram feitas reféns pelos criminosos, mas foram liberadas no fim da ação e não ficaram feridas.
Quem estava em casa, ficou longe dos ataques, mas não se sentiu seguro. Fabíola*, quando começou a ouvir os barulhos pela primeira vez, achou que fosse fogos de artifício de torcedores do Bahia. Logo depois, uma rajada de tiros fez ela entender a situação e se assustar com a dimensão do que acontecia.
“Achei que era comemoração da subida do Bahia. Depois me toquei de que não parecia bombas e fogos. Foi aí que ouvi rajadas de tiros e estava perto. Não consigo nem descrever a quantidade de tiros e granadas. Muritiba virou um campo de guerra naquela hora”, fala.
De acordo com Janice*, que também é moradora da cidade, os tiros e explosões perfuraram por quase uma hora. Ela aponta que os suspeitos pareciam se deslocar por toda cidade, sempre atirando e jogando granadas para aumentar o clima de terror.
“Hora os barulhos eram mais altos, hora mais baixos. Eles iam e vinham pelos locais aqui sempre com muito tiroteio e explosões. Ficaram na rua da companhia da polícia para ninguém sair e conseguiram. A cidade ficou toda para eles por uns 50 minutos e foi um caos completo”, relata.
Procurada, a PM informou que guarnições das Companhias Independentes de Policiamento Tático Rondesp Leste e Especializado Litoral Norte, além de equipes da 27ª CIPM, foram acionadas na madrugada. Os militares constataram o fato, iniciando as buscas, mas não realizaram prisões.
Como os policiais não chegaram a tempo, o que restou para população foi tentar se proteger como pôde. “Me escondi atrás de um sofá em um quarto que fica na parte de trás lá de casa. Fiquei abaixada o tempo todo com muito medo porque os tiros não cessava. Felizmente, ninguém foi ferido”, fala Ronaldo*, também morador da cidade.
De acordo com o Sindicato dos Bancários na Bahia, ao todo, 19 agências foram alvo de ataques – nove com explosão – em todo o estado ao longo de 2022. O número é menos da metade do que foi registrado em 2021, quando 47 agências foram atacadas, sendo 34 com explosão. Apesar da frequência mais de três vezes menor nas explosões, uma característica de mantém neste ano: a violência das ações.
* Os entrevistados pediram para ter seus nomes preservados
Correio
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