A vida de Rui Rezende, fotógrafo renomado nascido em Amargosa, é uma história de superação e paixão pela natureza. Vítima de um grave acidente aéreo, em 2014, o profissional da fotografia viu sua carreira quase chegar ao fim, mas ressignificou a própria vida e encontrou nas lentes uma forma de renascer.
Nascido em 6 de fevereiro de 1978, na Santa Casa de Misericórdia em Amargosa, Rui Rezende não imaginava que a fotografia se tornaria o sentido de sua vida. A história de sua carreira começa em Salvador, para onde ele se mudou, aos 17 anos, a convite da prima de sua mãe para ajudar na loja de revelação de fotos. O que era para ser apenas um trabalho de férias, acabou se tornando uma paixão.
“Na verdade, eu comecei na fotografia pela revelação, pela loja de fotografia”, conta Rui, em entrevista exclusiva ao i75.
Ele se aprofundou na técnica de revelação, que na época era um processo manual, no quarto escuro, sem nenhuma luz. “Até a luz do rádio-relógio tinha que colocar um adesivo em cima para não atrapalhar a revelação”, recorda.
LEIA TAMBÉM
Fotógrafo de Amargosa lança livro com imagens aéreas da Bahia
Filho de Amargosa, fotógrafo Rui Rezende lança livro que homenageia a força do campo baiano

Em 1999, Rui Rezende comprou a melhor câmera da época e decidiu que seria um fotógrafo profissional. O início foi difícil, pois, diferentemente de hoje, com as redes sociais, o contato com os clientes e a divulgação do trabalho eram feitos de forma pessoal.
“Naquele tempo para alguém ver uma foto sua, você tinha que pegar essa foto, imprimir, gastar dinheiro com isso… e depois levar essa foto pessoalmente para que a pessoa pudesse ver com os próprios olhos, com papel na mão”.
O sucesso e a fotografia de natureza
O reconhecimento veio em setembro de 1999, com uma exposição de fotos no Shopping Center Lapa, em Salvador. O projeto de Rui chamou a atenção da Telemar, que o convidou a ter suas fotos em cartões telefônicos.
“Fiz logo, de cara, uma série de 10 fotos de borboletas. E naquele tempo eu cheguei a fazer 48 fotos para cartão telefônico. Eles imprimiram um total de 5 milhões de cartões telefônicos”, conta Rui.
Rui Rezende, que na época ficou conhecido como “o fotógrafo da Telemar”, percebeu que a fotografia de eventos e casamentos o ajudava a juntar dinheiro para investir em sua grande paixão: a fotografia da natureza. “Todo dinheiro que eu ganhava com fotografia de casamento, formatura, aniversário, 15 anos… eu pegava e ia pra Chapada Diamantina tirar foto lá na Chapada”.

Essa paixão pelas plantas e animais surgiu na sua infância, ao viver na roça com sua mãe, partindo cacau e catando café. Em 2003, o fotógrafo decidiu se dedicar exclusivamente à fotografia de natureza, uma decisão que o levaria a morar em Iramaia, na Chapada Diamantina, e a lançar uma série de livros de sucesso. Entre eles estão Chapada Diamantina: Paraíso Desconhecido; Bahia vista por um passarinho; e Cerrado e outras riquezas do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia.
O acidente e a superação
Em 24 de julho de 2014, enquanto produzia o livro Oeste da Bahia o Novo Mundo, o avião em que Rui estava caiu. O acidente foi grave e o deixou com ferimentos sérios, incluindo um pé esquerdo e uma mão direita quebrados, rompimento do intestino, fígado rasgado e a coluna fraturada. “Eu passei 10 dias em coma. No total, passei 42 dias no hospital, depois mais uns 6 meses fazendo fisioterapia. Mas aí me recuperei e fiquei bem”, conta.

Apesar do corpo debilitado, sua mente se manteve sã. Ainda em recuperação, apenas um mês após o acidente, ele realizou uma exposição de fotos chamada Minha vida está na primavera, que representava seu renascimento. Ele também conta que, no começo, a voz dele saía embolada, como se ainda estivesse afetado pelo acidente, o que o incomodava muito.
“Eu falava com as pessoas, eu dava entrevista na televisão, mas a minha voz saía meio embolada, a minha voz saía parecendo que eu não sabia o que tava falando… Aquilo me incomodava muito porque eu estava pleno, minha cabeça estava totalmente 100% plena”.
Novos horizontes
Recentemente, Rui lançou um novo livro, o Agricultura da Bahia, para o qual percorreu o estado para fotografar. Ele também está produzindo seu primeiro filme, um documentário sobre a vida dos vaqueiros da região do Raso da Catarina, um projeto que decidiu fazer por conta da importância do tema.
Sobre a fotografia digital, com moderníssimos smartphones, Rui Rezende acredita que ela trouxe a democratização da fotografia, mas a necessidade de uma reflexão e dedicação por parte dos profissionais.

A dica que ele dá para os novos fotógrafos é: “Eu acho que a principal coisa que a pessoa tem que fazer primeiro é pensar na fotografia que vai fazer, se dedicar naquilo ali e fazer as coisas como se ela tivesse fazendo para ela mesma… Além disso, é preciso desenvolver suas próprias técnicas e o seu estilo pessoal, para conseguir o seu trabalho autoral de uma forma diferenciada e não simplesmente copiar a foto dos outros por aí”.

