Após cheia do Rio Jiquiriçá, Ubaíra virou cenário de filme de apocalipse

Um cachorro, com lama da ponta das patas até metade da barriga, foi a primeira imagem que mais chamou a atenção ao chegarmos em Ubaíra, no Vale do Jiquiriçá, na tarde da última quarta-feira (30). A sujeira no animal traduz o que os moradores daquela cidade estão vivenciando desde que as fortes chuvas devastaram parte do lugar.

Um odor fétido, muito lixo, o silêncio e os rostos tristes da população também resumem o ‘luto’ local, embora, felizmente, a enxurrada dos últimos dias 24 e 25 não tenha causado nenhuma morte. Barulho, só das máquinas utilizadas para retirar a lama e os entulhos trazidos pela cheia do Rio Jiquiriçá, que corta o município. Ele, por sinal, ainda está com águas volumosas, e, com outra chuva forte, pode trazer mais destruição.

O comércio de Ubaíra está praticamente todo fechado. Os moradores desabrigados e desalojados, que são mais de mil, contam com doações de grupos voluntários vindos de toda parte da Bahia. A convite do amigo Álvaro Dayan, fiz parte do “Elísio Medrado Solidário”. Entre segunda-feira (27) e quarta (29), arrecadamos 450 cestas básicas; mais de 800 peças de roupas; água; materiais de limpeza e higiene pessoal, além de cobertores, camas e colchões. Parte da carga, levada em três caminhões e um ônibus, foi doada em Jiquiriçá, vizinha de Ubaíra e também vítima da fúria do rio.

O estrago maior, sem sombra de dúvidas, foi em Ubaíra, cujo nome significa “fruto de mel”, batismo dado pela tribo indígena tupi-guarani. Entretanto, o presente não é nada doce para os ubairenses. Só em uma rua da cidade, 36 casas desabaram. Cerca de 80% dos imóveis estão sem energia elétrica. Por onde passamos, vemos portões de casas e lojas contorcidos e com ramas da vegetação trazidas pelo Rio Jiquiriçá. De acordo com um morador, que preferiu não se identificar, a força da água foi tão grande que uma caminhonete foi arrastada e derrubou a marquise de uma loja, com cerca de três metros de altura.

Na mesma rua, duas funerárias foram inundadas e caixões boiaram. As urnas funerárias que restaram, estão danificadas. Mercados também foram atingidos. Em um deles, duas mulheres lavavam o que pôde salvar das mercadorias. Entre uma escovada e outra, as lágrimas molhavam os rostos de ambas. E por falar em higienização, o município ficou sem fornecimento de água potável, por parte da Embasa, já que adutoras também foram destruídas. Água tratada só chegava através das doações.

Para limpar objetos, vários moradores sentam na calçada e utilizam a água vinda de um minadouro, que escorre pelas ruas como se fosse um riacho. Em alguns trechos, o esgoto se mistura ao precioso líquido. Um prato cheio para a transmissão de doenças. Inocentes, crianças corriam sobre a água poluída.

O que não dá para ser lavado, virou lixo. São camas, colchões, travesseiros, guarda-roupas e outros objetos. Tudo fica no meio da rua, reforçando a paisagem devastadora. Uma casa, que fica na esquina próxima da ponte principal da cidade, foi atingida em cheio pela força da água. Um boneco de Papai Noel, pendurado na varanda, observava o emaranhado de ferros e capim, junto com os escombros do desabamento de parte da estrutura. Outro imóvel, localizado um pouco mais adiante, foi totalmente abaixo. Dezenas não ruíram, mas estão condenados e terão de ser demolidos.

Perto dali, passavam pessoas em busca de água para beber, e outras, que já haviam conseguido, seguravam as garrafinhas com metade do líquido, numa notável economia, em função da escassez. Enquanto os caminhões com donativos eram descarregados nos pontos de coleta, mulheres imploravam por cestas básicas e fraldas descartáveis. Entretanto, os donativos não são distribuídos nas ruas para não causar tumulto. A distribuição fica por conta da prefeitura, igrejas e organizações não-governamentais.

A destruição foi grande. Ubaíra vai precisar de tempo e muitos recursos – financeiros e humanos – para se reerguer. Até lá, toda ajuda será bem-vinda.

Você, que está lendo este texto, deve ter sentido a falta de declarações de dezenas de moradores, relatando o que passaram na véspera e no dia de Natal. Perdão, mas este repórter, antes de tudo, é ser humano. Respeitei o silêncio e entendi que, através do olhar  – deles e meu -, tudo o que eu queria saber, para relatar aqui, foi dito. Ubaíra chora! Em silêncio, mas chora.

Casas não poderão ser reconstruídas próximas a rios, diz Rui Costa

Foto: Divulgação

O governador da Bahia, Rui Costa , disse hoje (28) que o estado atravessa “o maior desastre natural da história”. Em entrevista coletiva, Costa disse que ainda não é possível dizer quando começará a reconstrução das áreas destruídas pelas enchentes que atingem o estado neste mês.

“A Bahia está devastada e ainda não é possível estipular quando as estradas vão ser recuperadas. Não sabemos a extensão. Vamos ter que olhar, caso a caso, a solução técnica. Em alguns lugares vamos ter que mudar a opção. Uma ponte de 50 metros de largura, por exemplo, que foi levada pela água pode ser um pouco maior, com 70 metros, para facilitar a passagem do rio”, adiantou.

Ainda segundo o governador, não será permitido que casas voltem a ser construídas em áreas de risco, próximas a rios ou em terrenos propensos a deslizamentos. O governador esclareceu que a prioridade das obras serão pontes e estradas essenciais que ligam os municípios a outras regiões e que estejam em locais de mais fácil acesso.

Números

Já são 116 municípios afetados e o número de cidades que decretaram situação de emergência chega a 100. Segundo a Defesa Civil da Bahia, até o momento, 470 mil moradores foram prejudicados de alguma maneira pelos temporais. As enchentes do estado já deixaram 20 mortos e mais de 31 mil desabrigados.

“A sensação que nós temos é, pelas imagens que vemos, de um grande bombardeio em todo o estado”, disse o governador. Ele acrescentou que pelo menos 50 cidades tem casas embaixo d’água. “Agora que a água começa a baixar, a gente vê o estrago que foi feito em casas de pessoas simples, que fizeram um esforço danado para erguê-las.”

Bahia registra mais duas mortes causadas pelos efeitos da chuva

Foto: Divulgação/GOVBA

O estado contabiliza, até esta segunda-feira (27), 31.405 desabrigados e 31.391 desalojados, de acordo com dados enviados pelas prefeituras e totalizados pela Superintendência de Proteção e Defesa Civil da Bahia (Sudec). O número de municípios afetados chega a 116, sendo que 100 deles já decretaram situação de emergência.

Foram registrados ainda 358 feridos e 20 mortos. Os dois óbitos mais recentes ocorreram em Itabuna: uma mulher de 33 anos, vítima de desabamento, e um homem, de 21 anos, levado pela correnteza. O total de pessoas afetadas é superior a 470 mil (471.009).

As mortes foram registradas em: Amargosa (2), Itaberaba (2), Itamaraju (4), Jucuruçu (3), Macarani (1), Prado (2), Ruy Barbosa (1), Itapetinga (1), Ilhéus (1), Aurelino Leal (1) e Itabuna (2).

Municípios que decretaram situação de emergência – 2021:

  1. ALCOBAÇA
  2. AMARGOSA
  3. AMÉLIA RODRIGUES
  4. ANAGÉ
  5. ANDARAÍ
  6. ANGICAL
  7. APUAREMA
  8. ARATACA
  9. AURELINO LEAL
  10. BAIXA GRANDE
  11. BARRA DO CHOÇA
  12. BELMONTE
  13. BELO CAMPO
  14. BOA VISTA DO TUPIM
  15. BREJOLÂNDIA
  16. CAATIBA
  17. CAETANOS
  18. CAMACAN
  19. CANAVIEIRAS
  20. CARAVELAS
  21. COARACI
  22. COCOS
  23. CONCEIÇÃO DO ALMEIDA
  24. COTEGIPE
  25. DÁRIO MEIRA
  26. ENCRUZILHADA
  27. EUNÁPOLIS
  28. FIRMINO ALVES
  29. FLORESTA AZUL
  30. GANDÚ
  31. GOVERNADOR MANGABEIRA
  32. GUARATINGA
  33. IAÇU
  34. IBICARAI
  35. IBICOARA
  36. IBICUÍ
  37. IBIPEBA
  38. IBIRAPUÃ
  39. IGRAPIUNA
  40. IGUAÍ
  41. ILHÉUS
  42. IPIAÚ
  43. ITABELA
  44. ITABERABA
  45. ITABUNA
  46. ITACARÉ
  47. ITAGIMIRIM
  48. ITAJU DO COLÔNIA
  49. ITAJUÍPE
  50. ITAMARAJU
  51. ITAMBÉ
  52. ITANHÉM
  53. ITAPÉ
  54. ITAPEBI
  55. ITAPETINGA
  56. ITAPITANGA
  57. ITAQUARA
  58. ITARANTIM
  59. ITORORÓ
  60. JAGUAQUARA
  61. JEQUIÉ
  62. JIQUIRIÇÁ
  63. JUCURUÇU
  64. JUSSIAPE
  65. LAFAIETE COUTINHO
  66. LAJE
  67. LAJEDÃO
  68. LENÇÓIS
  69. MACARANI
  70. MANOEL VITORINO
  71. MARAGOGIPE
  72. MARCIONÍLIO DE SOUZA
  73. MASCOTE
  74. MEDEIROS NETO
  75. MILAGRES
  76. MUCUGÊ
  77. MUCURI
  78. MUNDO NOVO
  79. MUTUÍPE
  80. NOVA VIÇOSA
  81. NOVO HORIZONTE
  82. PAU BRASIL
  83. POÇÕES
  84. PORTO SEGURO
  85. PRADO
  86. RIBEIRA DO POMBAL
  87. RUY BARBOSA
  88. SANTA CRUZ CABRÁLIA
  89. SANTA INÊS
  90. SANTANÓPOLIS
  91. SAPEAÇU
  92. TEIXEIRA DE FREITAS
  93. TEOLÂNDIA
  94. UBAÍRA
  95. UBATÃ
  96. URUÇUCA
  97. VALENÇA
  98. VEREDA
  99. VITÓRIA DA CONQUISTA
  100. WANDERLEY

Dezesseis pessoas são resgatadas por helicóptero em Ubaíra

Foto: Divulgação

Com as casas invadidas pela água das fortes chuvas e inundações causadas pela alta do Rio Jiquiriçá, 16 moradores de Ubaíra foram resgatados por equipes do Grupamento Aéreo da Polícia Militar da Bahia (Graer), no domingo (26).

As vítimas foram retiradas, na maior parte das vezes, pelo telhado das casas, com a utilização de uma espécie de cesto acoplado à aeronave, devido à impossibilidade de entrada nos imóveis. Imagens registradas por moradores da cidade mostram momentos da ação de resgate.

O helicóptero da PM decolou de Salvador na parte da manhã para a operação de resgate. “Utilizamos uma técnica chamada ‘puçá’, ou seja, um cesto vertical com um policial militar para conseguirmos resgatar essas 16 pessoas através telhados das casas com o helicóptero a baixa altura”, revelou o tenente-coronel Wolney, comandante do Graer.

Atingida pela chuva, Ubaíra recebe nova ambulância

Foto: Divulgação/GOVBA

O governador Rui Costa entregou, no início da noite de domingo (26), seis ambulâncias para os municípios de Ubaíra, Itororó, Itapetinga, Pau Brasil, Itapitanga e Ilhéus, onde segue nesta segunda-feira (27) coordenando os trabalhos de apoio às vítimas das fortes chuvas que estão caindo em toda a Bahia.

Nesta segunda-feira (27) pela manhã, o helicóptero do governador vai levar água, alimentos e medicações ao município de Itapitanga, que se encontra completamente ilhado.

“São 58 cidades que estavam total ou parcialmente submersas hoje, tanto a zona rural como a urbana. Temos um número estimado de 20 mil pessoas desalojadas, e esse número é apenas uma estimativa, porque dada a dimensão, não é possível calcular exatamente quantas pessoas estão fora de casa”, afirmou Rui.

Unidade móvel da Delegacia da Mulher atenderá em três cidades do Vale do Jiquiriçá

Foto: Divulgação/Polícia Civil

O projeto Deam Itinerante vai percorrer três cidades do Vale do Jiquiriçá entre hoje (23) e quinta-feira (25). Mutuípe, Jiquiriçá e Ubaíra são as contempladas com a ação do Departamento de Polícia do Interior (Depin). A Delegacia Especial de Atendimento à Mulher é responsável pelo enfrentamento à violência contra o sexo feminino.

Na iniciativa, a delegacia móvel percorre as cidades com uma equipe especializada. Registros de ocorrências, orientações, além de atividades integradas com os órgãos da rede de atendimento à mulher, disponíveis em cada cidade, são realizados durante as visitas. 

Confira o cronograma.

Mutuípe: 23 de novembro
Jiquiriçá: 24 de novembro
Ubaíra: 25 de novembro

Rui Costa vai a Ubaíra para autorizar construção de delegacia

O governador Rui Costa estará, nesta terça-feira (23), às 9h, em Ubaíra, onde vai entregar a obra da captação alternativa para o Sistema de Abastecimento de Água do município, a partir do manancial do Boqueirão-Cachoeira dos Prazeres.

Rui também vai assinar ordem de serviço para a construção da Delegacia Territorial de Ubaíra. O governador vai ainda anunciar a implantação do sinal de telefonia celular da operadora Tim, na localidade de Três Braços, resultado de uma parceria com as secretarias estaduais da Fazenda (Sefaz) e de Infraestrutura (Seinfra), por meio do Programa Fala Bahia.

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